Alzheimer, Depressão, Demência fronto-temporal, Parkinson, AVC e efeitos colaterais de algumas medicações, entre outras, são causas de declínio cognitivo. Sujeitos muito idosos também podem enfrentar déficits, que são considerados ‘normais’ para a idade.
Mas o que são esses déficits e como lidar com eles? Essas perguntas têm sido cada vez mais frequentes e esse post vem para ajudar você, familiar ou cuidador, que passa por situação parecida.
Sem avaliar o paciente com disfunção cognitiva fica difícil orientar questões individuais, mas eu posso dar algumas dicas mais genéricas que ajudam em diversas situações, independente do diagnóstico. Para compreender as dicas é importante explicar brevemente o mecanismo de processamento de informações. Já falei dele aqui, num post sobre falhas cognitivas devido à ultraconectividade, está no link ao lado: https://www.andressachodur.com.br/index.php/2018/04/30/a-ultraconexao-pode-prejudicar-sua-saude-mental-e-sua-memoria/
Voltando ao tema desse tópico: De acordo com a Teoria do Processamento de Informação nosso córtex processa com atenção plena UMA informação por vez. As informações chegam pelos receptores sensoriais: audição, olfato, tato, paladar, propriocepção e visão. Sentimos tudo, sabemos em que posição nosso corpo está no espaço, sabemos se está dia ou noite, se está frio ou calor, sem ter que pensar nessas informações sensoriais que estamos recebendo. Você sabe que está sentado sem precisar olhar para suas pernas, você consegue cantar uma música e cozinhar ao mesmo tempo. É possível caminhar num parque e conversar no celular, mas dirigir não dá. Embora andar e dirigir sejam atividades automatizadas pelo nosso sistema nervoso, quando dirigimos devemos estar ATENTOS às informações ambientais, especialmente visuais e auditivas. O processamento de informações que envolve atenção é tipo funil e ocorre de forma paralela: chegam informações aos montes, mas elas vão sendo processadas, descartadas e afuniladas.
Na entrada sensorial, quando é exigida atenção, só passa uma informação. Perceba isso quando você precisa aprender uma nova habilidade, memorizar um conteúdo, dar uma resposta, tomar uma decisão, resolver um problema ou outras situações que envolvem buscar uma informação na tua memória de longo prazo. Estresse, pressão, ambiente ruidoso, tensão emocional podem bloquear essas ações cognitivas. Quem nunca teve um branco numa prova? Quando isso ocorrer novamente, pense em outra coisa que a resposta virá. Se conosco funciona assim com seu familiar com disfunção cognitiva também funcionará, dependendo do nível de comprometimento cognitivo. Dicas que sempre ajudam:
- Evite apressar ou pressionar o sujeito para dar uma resposta. Pergunte calmamente, duas vezes ou mais se for necessário.
- Facilite a compreensão. Use poucas palavras, em tom de voz neutro, direcione sua pergunta. É normal perder a paciência, ter pressa, ser ansioso, a vida não para porque alguém adoeceu, né? Mas explodir não resolve e ainda te fará mal, então respire e
- Não projete suas frustrações e ansiedades sobre o paciente.
- Dê tempo para a resposta. Normalmente a resposta está lá, na memória de longo prazo, ela é menos afetada, mas o caminho para chegar até a resposta pode estar comprometido, então calma.
- Não julgue. Você não está no corpo nem na cabeça de seu ente querido. Não menospreze sofrimento alheio, acolha as queixas.
- Tenha empatia. Ele não escolheu ficar doente e limitado. Lembre sempre disso.
- Evite frases como: “lembra?” e “esqueceu?”. Isso não ajuda.
- Evite muito barulho no ambiente do paciente como choro de criança, TV e falar muito alto. Isso compromete o processamento de informações.
- Não responda perguntas que para você são ‘bobas’ com ironia ou irritabilidade. Se alguém te pergunta algo é porque não sabe a resposta. Parece óbvio, mas é um erro comum que pode ser gatilho para bloqueios cognitivos ou crises nervosas. Obs: se a irritabilidade for constante, talvez você também precise de ajuda profissional. Isso não é sinal de fraqueza. É por querer ser muito forte.
- Não mude objetos de lugar. Evite mudanças no ambiente e na rotina.
- Estabeleçam horários e compromissos semanais fixos. Convide o paciente a participar das decisões.
- Faça uso de facilitadores de rotina: bilhetes com lembretes pela casa, nomes destacados em frascos, despertadores, etc.
- Como prevenção de acidentes mantenha o ambiente iluminado, retire objetos instáveis do chão, assim como perfurocortantes e, se possível, instale sensores de fumaça e câmeras de acesso remoto.
- Todo dia, sem parecer uma cobrança, pergunte o dia do mês, da semana e como está o clima. Isso ajuda na orientação temporal.
- Pedir para a pessoa contar como foi seu dia, o que assistiu na TV, o que comeu no almoço são exercícios para estimulação de memória recente. Eu estimulo meus pacientes a fazerem o “Diário da memória e emoção”, onde eles descrevem seus dias, anotam suas falhas cognitivas e as emoções associadas.
- Caso ocorram crises nervosas: ouça mais e fale pouco, se mostre presente e disponível. Fique perto sem ser invasivo. Coloque uma música calma, um aroma, ofereça um chá, ofereça conforto. Estimule o paciente a respirar algumas vezes. Isso ajuda a voltar à calma.
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Drª Andressa Chodur crefito 8956
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