Postado em 16 de setembro de 2019
Compartilhe

Em artigo original publicado recentemente nos Cadernos de Terapia Ocupacional de São Carlos pesquisadoras entrevistaram Terapeutas Ocupacionais e pacientes idosos com diagnóstico de Doença de Parkinson para conhecer melhor as intervenções dos Terapeutas Ocupacionais junto à população com esse diagnóstico; assim como verificar como os idosos compreendem a Terapia Ocupacional, os objetivos do tratamento, as avaliações aplicadas, técnicas, recursos e abordagens utilizados, além da percepção sobre os resultados obtidos com o tratamento Terapêutico Ocupacional.

De acordo com o estudo, os idosos esperam ver melhora nas suas atividades diárias e no seu cotidiano, mas os profissionais, em sua maioria, planejam os objetivos do tratamento principalmente a partir dos sintomas motores e não no desempenho ocupacional das AVDs (atividades de vida diária), mesmo sem deixá-las de lado. O artigo nos faz refletir sobre a necessidade da valorização e da inserção de explicações sobre treino e reabilitação de AVDs no discurso dos profissionais.
As autoras concluíram que os idosos têm dificuldades em compreender a atuação profissional dos TOs, apesar de serem muito gratos e satisfeitos com o atendimento por eles prestado, e que há divergências entre as concepções dos idosos e dos profissionais em relação aos objetivos do tratamento. Concluíram que as técnicas e os métodos utilizados pelos profissionais relatados no presente estudo foram distintos, mas a maioria teve como objetivo principal melhorar componentes motores; e que os resultados do tratamento variam conforme a adesão do paciente ao tratamento e a fase da doença em que se encontram.

E agora eu lhes pergunto, Terapeutas Ocupacionais: quando usaremos um discurso universal, quando seremos conhecidos e reconhecidos por nossas práticas junto aos pacientes com Parkinson, que tanto necessitam melhorar sua função e autonomia? O artigo nos informa do quanto eles percebem essa necessidade e, cabe a nós, TOs, levarmos a esses idosos nossas técnicas e recursos privativos para melhorar seu desempenho ocupacional e qualidade de vida.

Quem já fez o curso “Atuação do Terapeuta Ocupacional na Doença de Parkinson” sabe o quanto eu bato nessa tecla. É isso que nos move: olhar o paciente de forma global, como ator do seu cotidiano, possibilitando-o, através de técnicas e recursos, melhorar o desempenho nas AVDs. Quem já me ouviu falar sabe o quanto eu reforço que ter independência nas AVDs é indicador de qualidade de vida. Como não mencionamos isso aos pacientes? Independente se o objetivo específico da sessão do dia é treino cinesioterapêutico, reabilitação cognitiva, psicomotricidade ou tudo junto, o objetivo geral do nosso tratamento com pacientes com parkinson é melhorar seu desempenho ocupacional e qualidade de vida.

Eu entendo a angústia por sermos profissionais generalistas, o sujeito com parkinson tem muitas queixas e perdas funcionais, há muito o que ser feito, mas mesmo assim, o norteador da nossa ação não pode deixar de ser mencionado. Para encerrar minha explanação e provocar reflexão vou citar uma frase que eu uso muito e acho que tem tudo a ver com o TO que atende Parkinson “Cada sujeito com Parkinson é único. A combinação de sintomas físicos, mentais e emocionais, que afetam os ambientes sociais, familiar e de trabalho, sugere que uma intervenção padronizada, ‘tamanho único’ trará resultados limitados. Se é que trará algum.” (Aragonn A., Kings J.) Não precisamos nem devemos ser iguais, isso é impossível, os pacientes não serão iguais, mas temos que falar a mesma língua e deixar isso claro para o nosso paciente. O idoso com Parkinson precisa saber que, se está tomando banho mais rápido, movimentando melhor as mãos e dedos, voltou a tricotar, se está com a memória turbinada após a estimulação cognitiva e derrubando menos comida pós a adaptação criada é por causa da TO!

Silva, T. P.; Carvalho, C. R. A. Doença de Parkinson: o tratamento terapêutico ocupacional na perspectiva dos profissionais e dos idosos. Cad. Bras. Ter. Ocup., São Carlos, v. 27, n. 2, p. 331-344, 2019

Facebook Comments