Postado em 11 de maio de 2018
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Há 200 anos, quando a Doença de Parkinson foi descrita pela primeira vez num artigo intitulado “An essay of the shaking Palsy”, James Parkinson relatou que os sentidos e o intelecto dos pacientes encontravam-se ilesos.

Atualmente sabe-se que esta afirmação não é verdadeira, pois distração, desorganização, esquecimento e dificuldades com planejamento afetam os parkinsonianos. Eles normalmente são surpreendidos por estas alterações, assim como seus familiares, por acreditarem que a doença afeta exclusivamente a parte motora.

O decréscimo de dopamina no córtex frontal e nas regiões límbicas, pode causar déficits cognitivos e depressão. Quase todos os sujeitos com Parkinson, em alguma fase da doença, apresentarão alterações cognitivas.

As principais funções cognitivas afetadas na Doença de Parkinson são:

1-Memória. Relembrar informações que já foram aprendidas é uma das principais dificuldades relatadas pelos pacientes com Parkinson;

 

2-Função executiva, que engloba um grupo de habilidades mentais controladas pelo lobo frontal do cérebro que ajudam as pessoas a executar tarefas de forma planejada e organizada. Essa é uma das principais queixas cognitivas dos parkinsonianos. Podem ter problemas em manter um pensamento, o que leva à dificuldade de seguir orientações simples. Instruções como “vá para seu quarto e calce os sapatos” podem ser esquecidas em algum momento entre a primeira ação (ir ao quarto) e a segunda (calçar os sapatos). Num próximo post vou explicar como diminuir essas confusões!

 

3-A flexibilidade cognitiva, que é a dificuldade de alternar a atenção entre vários estímulos, dificulta o processamento de informações simultâneas. Isso ocorre porque, em situações onde é preciso formular uma série de soluções de problema, assim como quando os sujeitos necessitam deslocar a atenção de uma categoria de informação, ou um tipo de tarefa para outro, é como se eles “congelassem”.

 

4-Problemas neuropsiquiátricos também podem emergir associados à DP. Marsden (1994) cita as pseudo-alucinações visuais, quando o paciente enxerga animais ou humanos “familiares”. Essas visões podem em parte ser induzidas pela medicação administrada, e reduzindo as drogas dopaminérgicas tendem a desaparecer. Entretanto, conforme o autor, alguns pacientes evoluem para um estado confusional e podem se tornar psicóticos. Nesses casos é necessário rever a medicação.

 

5-Depressão e ansiedade são freqüentes complicações não-motoras do Parkinson, não apenas durante a fase motora, mas também na que a antecede.

6- Dentre as alterações cognitivas características da DP uma das mais limitantes é a bradifrenia. A bradifrenia é caracterizada como um distúrbio da função intelectual que interfere nos processos de pensamento prejudicando a atenção e a concentração. Dessa maneira, os parkinsonianos apresentam dificuldades com a atenção seletiva e com a transferência de atenção, o que justifica proporcionar facilitação cognitiva para esses indivíduos. A bradifrenia pode ser considerada o “análogo mental da bradicinesia”, ou seja, da mesma forma que a bradicinesia diminui a amplitude e velocidade dos movimentos, a bradifrenia lentifica os processos cognitivos, causa impacto tanto sobre os processos cognitivos, como solução de problemas e armazenamento de informações, quanto sobre atividades diárias, por exemplo pagar uma conta, ou mesmo sobre como os indivíduos irão se adaptar aos sintomas motores. De acordo com Berardelli et al. (2001), a bradifrenia pode influenciar no planejamento dos movimentos e aumentar o tempo de reação, quando o indivíduo não apresentar demência e não estiver fazendo uso de drogas, como os anticoalinérgicos, que podem interferir com os processos cognitivos.

Para melhorar desses sintomas procure se manter ativo, realizando as atividades que gosta e que lhe proporcionam bem-estar, desde que em segurança. Leitura, música, palavras-cruzadas, são boas opções. Manter hobbies e antigos hábitos saudáveis de vida é fundamental. Vá passear, ao cinema (depois conte a alguém o que assistiu), faça um diário (isso ajuda também na micrografia, outro sintoma da doença), dance, faça pintura, crochê, artesanato, pescaria, cultive uma horta e pratique alguma atividade física. Independente da escolha, o importante é ser feliz.

Atenção, se estes sintomas começarem a impactar na sua qualidade de vida e autonomia procure um Terapeuta Ocupacional para reabilitação cognitiva. O Terapeuta irá avaliar a capacidade cognitiva do paciente, definir os objetivos do tratamento e realizar estímulos conforme cada necessidade individual. Além da reabilitação cognitiva é preciso orientar familiares e cuidadores para promoverem facilitação cognitiva no ambiente doméstico. Por fim, o terapeuta pode sugerir adaptações para facilitar o cotidiano e diminuir as confusões e o impacto que os esquecimentos causam. Quanto antes iniciar o tratamento, menores as perdas cognitivas e melhores serão os resultados!

Drª Andressa Chodur – CREFITO 8956

BERARDELLI A; ROTHWELL C. J; THOMPSON D. P; HALLETT M. Pathophisiology of bradikinesia in Parkinson´s disease. Brain, 124: 2131-2146, 2001.
CHODUR, A. A Influência das Dicas de Aprendizagem na Realização de Duas Atividades de Vida Diaria em Pacientes com Doença de Parkinson. Dissertação (Mestrado), Universidade Federal do Paraná, 2009.
MARSDEN D. C. Parkinson´s Disease. Journal of Neurology, Neurosurgery, and Psychiatry. Volume 57, 672-681, 1994.
MARSH L. Not Just a Movement Disorder: Cognitive Changes in PD. News & Review, Parkinson Disease Foundation, 4-5, winter 2007/2008.

 

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